Reportagem Especial: Evite teclar com o perigo na Internet


A mesma internet que facilita a vida de todo mundo, pode levar uma garota a se meter em muitas enrascadas.
Como uma menina cai nessa e como você pode evitar perigos como cyberbullying, sites sobre anorexia e até pedofilia?
Saiba aqui no Infoescravo, numa série de artigos sobre os perigos da Internet representados por usuários com perfil falso no Orkut, MSN e em outros locais da web.
Por Maína Miller e Karolina Pinheiro.
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“Na hora do jantar, vá tomar banho. Depois, diga que vai comer no quarto e jogue a comida fora.” Amanda*, 19 anos, aprendeu essa e outras dicas absurdas em sites, fóruns e blogs que falavam sobre a Ana e a Mia – os “apelidos carinhosos” de anorexia e bulimia. Foram 7 kg a menos em apenas dois meses. Resultado: a garota foi parar no hospital, com um quadro grave de anemia profunda, cálculo renal e amenorréia (ausência de menstruação, causada, nesse caso, por desnutrição).
A família de Amanda jamais desconfiou do que se passava com ela. Afinal, a internet também ensinou como podia esconder a doença dos outros. Mas, depois que a verdade veio à tona, a garota foi levada a uma psicóloga e, após algumas sessões, conseguiu entender o que estava acontecendo.
O caso de Amanda choca, porém não espanta os estudiosos do fenômeno internet. Entre as pessoas que acessam páginas pró-anorexia e bulimia, estima-se que 67%** sejam jovens entre 13 e 17 anos.
É cada vez mais comum encontrar o perigo na internet
Há tempos, a internet deixou de ser uma fonte só de coisas legais. Em 2006, o gaúcho Vinicius Marques, 16 anos, se suicidou com a ajuda de um site em que pessoas davam dicas de como cometer o ato. No mesmo ano, outro caso se tornou famoso: o da americana Megan Meier, que se matou aos 13 anos quando seu namorado virtual passou a ignorá-la e a dizer coisas horríveis, como: “O mundo será um lugar melhor sem você”. Detalhe: o namorado virtual nunca existiu. Era um perfil fake criado pelos pais de uma vizinha da garota, que claramente não gostavam de Megan.
Depois de ler o que rolou com Amanda, Vinicius e Megan, a gente fica pensando: o que leva as pessoas a perderem seu tempo incentivando outras a se matar ou a desenvolver doenças como anorexia e bulimia? A resposta para essa crueldade é até ridícula: o anonimato.
Na internet, você pode ser quem quiser e dar vazão a qualquer tipo de sentimento sem que ninguém, a princípio, te julgue por isso e sem, necessariamente, ter que lidar com as conseqüências de seus atos. Mas o que leva alguém a buscar informações sobre como morrer ou ser anoréxica em sites, blogs e orkut?
Basicamente, curiosidade. Muitas pessoas – principalmente os adolescentes – têm interesse em saber o que acontece em páginas desse tipo. Agora, o que leva meninas e meninos a se deixar influenciar pelo tipo de conteúdo que aparece lá é, geralmente, um quadro de depressão instalado. Quando ficamos deprimidas, o primeiro impulso é se fechar e só se abrir com pessoas que de fato entendem o que você sente. A Amanda se sentia muito bem trocando idéias com outras meninas que passavam pela mesma situação que ela. Era melhor do que conversar com a própria mãe ou com as amigas.
Para não cair em roubadas

  • Limite o acesso de pessoas a suas fotos no orkut e divulgue pouquíssimas informações sobre você na net.
  • Não revele dados pessoais a qualquer um. Se a pessoa for desconhecida e fizer perguntas muito indiscretas pelo MSN ou orkut, delete-a dos seus contatos.
  • Desconfie de concursos e promoções do orkut. Sempre cheque com a fonte se tal coisa está mesmo rolando.
  • Caso se sinta atraída por sites de conteúdos estranhos, pense: por que estou buscando esse tipo de informação? Não finja que nada está acontecendo. Fica a dica de sempre: se perceber que alguma coisa está errada, converse com seus pais e amigas de confiança.

Caso seja uma vítima…
Rola descobrir quem são as pessoas que se escondem atrás desses endereços e comunidades do mal. Para isso, é preciso chegar ao número do IP do computador de onde foi mandado a mensagem, criado o site/blog ou gerada a comunidade.
Esse processo só pode ser feito com a ajuda de um advogado. Ele vai levantar provas – páginas impressas da internet, por exemplo – e pedir, através de um mandato judicial, que o provedor que hospeda a página rastreie e entregue as informações. Não é algo simples e rápido, mas essa é a forma que existe para encontrar as pessoas que tornam a internet tão perigosa.

Se rolar alguma agressão virtual com você ou alguma amiga, lembre-se de imprimir as provas.

* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas.
Quem deu as informações:

  • Luciana Ruffo e Fernanda Gastin Escaleira – Psicólogas e membros do Núcleo de Pesquisa da Psicologia da Informática da PUC-SP
  • Cléo Fante, educadora e autora do livro Fenômeno Bullying
  • Cristina Sleiman, advogada do escritório especializado em direito digital Patrícia Peck.

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