Por Natalia Cuminale
Há uma silenciosa movimentação nas proximidades da internet brasileira, que deverá desencadear a nova onda da web no país: a entrada na rede e em peso da classe C – famílias cuja renda mensal fica entre 1.100 e 4.600 reais.
Ao todo, são 91 milhões de pessoas, mas hoje só cerca de 45% delas têm acesso à rede, segundo dados da Fundação Getulio Varga e TGI Brasil.
Essa esperada onda é prenunciada por várias ações – públicas e privadas – que buscam explorar o novo filão.
O ingresso de milhões de brasileiros no mundo digital produzirá impactos sobre várias áreas da economia e da sociedade, como comércio eletrônico, emprego, serviços e educação.
No estado de São Paulo, por exemplo, governo local e provedores já abriram mão, respectivamente, de parte dos impostos e lucros para firmar uma parceria que deu forma a um pacote de banda larga popular: a médio prazo, espera-se que até 2,5 milhões de lares recebam o sinal de até 1 MB pagando 29,80 reais. No âmbito federal, está em estudo um projeto semelhante, o Plano Nacional para Banda Larga (PNBL).
As estimativas mais otimistas preveem que o eventual acordo entre iniciativa pública e privada em nível nacional poderá estimular o crescimento espontâneo do setor, elevando até 2014 o número de acessos fixos de banda larga de 18 milhões para 30 milhões – além de outros 60 milhões de acessos móveis, via celular. Estima-se que, se a mensalidade para o acesso à rede chegar a 30 reais, 9,7 milhões de lares da classe C poderiam aderir ao serviço em todo o país.
A imagem construída nas panilhas é bela: a de um Brasil conectado. Mas ao tamanho das possibilidades corresponde a dimensão dos desafios – e até dúvidas. Um exemplo: para empreender um plano de tal envergadura, governo e empresas teriam de investir cerca de 75 bilhões de reais até 2014. É uma montanha de dinheiro.
Mas analistas e políticos concordam que o ingresso em larga escala da classe C na rede vai de fato ocorrer – e em um prazo razoavelmente curto. “O Brasil despertou para a necessidade da tecnologia. O pais está vendo que não adianta ter um computador se não tiver acesso à internet”, afirma Emilio Munaro, diretor de Educação da Microsoft Brasil. “Já podíamos ter avançado há mais tempo”, diz o deputado paulista José Aníbal, líder do PSDB na Câmara, criticando o governo federal por não dar mais agilidade ao projeto.
É fato que o acesso à internet está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico. Segundo estudo realizado pelo Banco Mundial, a cada 10 milhões de novos acessos, o PIB de uma nação cresce até 1,3%. “Se você pensar nos 90 milhões de acessos pretendidos pelo PNBL e compará-los ao que temos hoje (cerca de 10 milhões), significa que em quatro anos poderemos fazer do crescimento do país uma realidade”, prevê Pedro Cabral, presidente do IAB Brasil (Interactive Advertising Bureau), entidade de regulamentação de ações de comunicação e marketing na rede.