Quando William Kamkwamba disponibilizou energia elétrica para sua vila, tomou um susto. As filas formadas em sua porta não eram de pessoas querendo usar geladeira ou TV.
“Todos eles queriam recarregar seus celulares”, lembra.
O episódio mostra a importância que os aparelhos têm na África. Enquanto a internet chega para apenas 6,7% das pessoas do continente e a energia elétrica ilumina 25% dos africanos, 37% deles possuem celular. Isso mesmo: são mais pessoas com o dispositivo no bolso do que com eletricidade em casa.
O celular é o PC da África e, junto do rádio, é a principal fonte de informação dos africanos. Mas internet 3G por lá ainda é um conceito distante. As informações circulam por SMS. E em locais a que as ondas de rádio não chegam, as mensagens de texto acabam sendo a única opção. A rádio SW Africa, que fica em Londres, manda 30 mil mensagens de texto por dia para cidadãos do Zimbábue, país que bloqueia sinais de rádio.
Em uma sociedade carente de quase todos os serviços mais básicos, opções baseadas no celular começam a surgir como alternativa. No Quênia, um serviço iniciado em 2007 permite que oito milhões de pessoas usem seus créditos de celular para pagar táxis e bares.
E A INTERNET?
Com a eletricidade chegando a apenas um quarto da África, imaginar uma popularização da internet parece exagero. Só que algumas iniciativas começam a abrir caminho.
O East African Submarine System é um projeto bancado pelo Banco Mundial e que irá esticar uma cabo de fibra óptica pelo continente para disponibilizar internet de alta velocidade em 20 países. Só que um problema prático vai persistir: qual a parcela da população que terá dinheiro para comprar um computador para acessar a rede?
Kamkwamba ainda deve ver por muito tempo as pessoas andando para lá e para cá com carregadores. E ele sabe o motivo: “Esses aparelhos estão em todos os cantos porque são baratos”.
Por Rafael Cabral e Fernando Martines
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