por Fabio Steinberg
Já se foi o tempo em que telefone celular designava um apetrecho que no início não foi tão portátil assim, e mais tarde não foi tão digital assim, mas que pelo menos servia para falar sem fio.
Hoje esta versão eletrônica do antigo canivete suíço serve para um monte de coisas, inclusive falar.
Nem mesmo o nome deve sobrar do antigo modelo – insistir em denominá-lo celular é tão esquisito como chamar computador de cérebro eletrônico, ou anúncio de reclame.
É algo tão mofado como achar que uma pessoa que fala sozinha na rua é biruta – trata-se apenas de um transeunte usando fone de ouvido sem fio, algo tão trivial como pão com manteiga.
Hoje o celular invadiu todos os lugares. Só faltava funcionar durante os vôos, um problema que já está com os dias contados. Mas o fato é que a palavra “celular” se obsoletou.
O faz tudo, também conhecido como telefone inteligente ou ‘esperto’ (smartphone), serve também para ouvir música, acessar a internet, tirar foto, mandar mensagem, entre tantas outras coisas.
É por esta e outras que o pessoal da Nokia prefere chamar o aparelho de “computador multimídia”, e a Sansung cunhou um termo rebuscado demais para o meu gosto: “terminal móvel informacional”. A Sony bem que adoraria que o aparelhinho fosse conhecido como “walkman phone”, o que faz sentido, mas só faltou negociar o nome com a concorrência.
Vale tudo, menos chamar de celular. Deixou de ser uma questão semântica para se tornar um erro tecnológico.
O sistema original se baseava em dividir as cidades em pequenas células que transferiam a ligação de torre em torre, permitindo a milhares de pessoas falarem ao mesmo tempo sem perder o contato.
O problema é exatamente este: tudo foi bolado para transmitir voz. Hoje tem dados e imagens. Para atender a nova necessidade, ao misturar o uso das redes celulares com Wi-Fi e em breve wiMax, o aparelhinho nas nossas mãos é muito mais que um mero celular.
Com o surgimento de tecnologias como as que usam o VoIP muito em breve os aparelhos sequer usarão a rede celular. Por estas e outras que quem estão certos são os ingleses ao usar o termo “mobile”. E quem diria, os portugueses, que adotaram desde o começo o agora não mais tão estranho nome “telemóvel”.