SP: depois da tempestade, as doenças

Por Natalia Cuminale
Desde que a temporada de chuvas em São Paulo começou, os paulistanos precisam lidar com mais uma preocupação: a chance de contrair doenças.

O contato com as águas empoçadas podem provocar problemas dermatológicos, gastrointestinais e evoluir até para casos mais graves, como a leptospirose.

“O grande problema se dá a partir do represamento das águas, pois ali se acumulam lixo, dejetos e restos de alimentos”, explica Reinaldo Salomão, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “Em resumo: a água vira um reservatório de microorganismos e bactérias, que podem contaminar o homem.”

Pior: o risco de doenças não é exclusividade de pessoas que enfrentam diretamente as enchentes. Quem pisa em locais com água parada com calçado inadequado também pode contrair algum mal. “Mesmo o individuo que, na volta do trabalho, atravessa uma poça d’água – onde normalmente há lixo ou ratos – corre risco de infecção”, avisa Salomão.

Chuva e ratos – O maior temor dos profissionais de saúde pública é mesmo a leptospirose. O rato é um portador assintomático da doença, que é eliminada pela urina do roedor. Em situações de enchentes, o mal se espalha pela água e pode contaminar o ser humano. “Se não for tratada, a leptospirose evolui para quadros graves e pode levar à morte”, diz Davi Lewi, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.

Os sintomas mais comuns são febre alta e dores no corpo. “É importante estar alerta, pois os sintomas podem se confundir com um quadro de gripe”, alerta Fátima Rodrigues Fernandes, pediatra do Hospital Infantil Sabará. Segundo a especialista, as crianças devem receber especial atenção: é preciso ensiná-las que não se deve brincar em água de chuva. Os pais devem ainda inspecionar os ambientes escolares, para afastar riscos.

Sofrimento na pele – Além da leptospirose, as pessoas que enfrentam diariamente as águas podem sofrer com problemas dermatológicos. “Pela quantidade de lixo e de sujeira, pode-se desenvolver processos infecciosos causados por bactéria ou fungo”, explica Beni Grinblat, dermatologista do Einstein. A porta de entrada para esses males são eventuais feridas na pele: em contato com a água suja, inicia-se a infecção.

A nutricionista Olga Silverio Amancio, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, das regiões de São Paulo e Mato Grosso do Sul, alerta para o consumo de frutas e verduras nessa época do ano. Segundo ela, é melhor priorizar a ingestão de alimentos com cascas mais resistentes, e dar atenção redobrada na hora da higienização.

“No caso das frutas, é melhor retirar todas as cascas antes de comer. Para a salada, é melhor trocar as folhas por legumes como batata, mandioca, abóbora”, afirma Olga. “Afinal, não sabemos se houve inundação no local onde essas frutas e verduras foram cultivadas e armazenadas”, diz a nutricionista.

Para quem corre risco de enfrentar a chuva no fim da tarde, os especialistas recomendam o uso de calçados fechados, de preferência impermeáveis. Caso o contato com a água empoçada seja inevitável, deve-se lavar o corpo assim que possível. “É importante evitar que a pele desidrate, já que uma pele desidratada favorece a infecção”, afirma Valéria Petri, dermatologista da Unifesp.

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