Aplicativos para smartphone não falam a mesma língua

No mundo dos aplicativos de telefonia móvel, Apple, Google, Nokia e seus concorrentes parecem ter em comum apenas as diferenças que os separam.

A maioria do software para comunicação móvel só opera em um tipo de aparelho ou nos celulares de uma operadora.

Um aplicativo do iPhone não funciona em celular da Nokia, e tampouco funcionaria com o sistema operacional para celulares Android, do Google, ou com o novo Windows Phone, da Microsoft.

A situação do mercado, dizem os especialistas, é uma cacofonia de software incompatível que ameaça retardar o crescimento da internet móvel. As empresas desse ramo que estão comparecendo ao Mobile World Congress, congresso de telefonia móvel que se realiza esta semana em Barcelona, vêm realizando sessões para instruir os programadores de software quanto às idiossincrasias de criar programas para seus aparelhos.

“Todos os sistemas são fechados”, disse Michael O’Hara, vice-presidente de marketing da GSM Association, organização setorial sediada em Londres que promove o evento em Barcelona. “Estamos criando ilhas de aplicativos incapazes de se comunicarem umas com as outras, no mercado”.

A forma atual de concorrência é semelhante à encontrada nos dias iniciais da computação pessoal, quando um programa criado para, por exemplo, um Commodore 64 não funcionava em uma máquina da Texas Instruments.

A Microsoft terminou por dominar o mercado de sistemas operacionais para computadores pessoais, e isso levou legiões de programadores a desenvolver software para máquinas acionadas pelo Windows. Mas os sistemas operacionais perderam importância nos computadores, em anos recentes, já que boa parte das tarefas de computação foi transferida à internet, construída em torno de padrões abertos.

No mundo da comunicação móvel, o mercado de sistemas operacionais é fragmentado e a web móvel ainda não está desenvolvida o bastante para oferecer muitas das coisas que as pessoas desejam de seus aparelhos móveis. Enquanto isso, o iPhone e a loja App Store, da Apple, transformaram o ramo antes obscuro da comunicação móvel em um mercado lucrativo, o que estimulou outras empresas a imitar aquele modelo.

No ano passado, foram vendidos US$ 4,2 bilhões em aplicativos para celulares, quase todos para o iPhone, de acordo com números do grupo de pesquisa Gartner. Depois de dividir os proventos com os programadores, a estimativa é de que a Apple tenha embolsado cerca de US$ 1 bilhão em 2009. Com as expectativas de alta de 62% nas vendas de aplicativos móveis este ano, para US$ 6,8 bilhões, ainda de acordo com o Gartner, os rivais da Apple estão batalhando por uma fatia do mercado.

A Nokia, maior fabricante mundial de celulares, anunciou que os consumidores estavam baixando mais de um milhão de aplicativos diários de seu serviço Ovi. Google, Samsung, LG e Research In Motion, fabricante do BlackBerry, reportaram forte tráfego em suas lojas de aplicativos.

As grandes operadoras de redes estão formando alianças para promover padrões próprios de aplicativos. Mas o mais improvável dos novos participantes desse segmento talvez seja a Alcatel-Lucent, fabricante de equipamentos para redes de telecomunicações.

Em dezembro, a Alcatel-Lucent, sediada em Paris e Nova Jersey, começou a conectar operadoras de rede e criadores e comerciantes de software, com o objetivo de criar aplicativos móveis que funcionem em múltiplas redes e sistemas operacionais. Mais de 50 operadoras de telefonia móvel expressaram interesse pelo programa, de acordo com a empresa, e já existem aplicativos em desenvolvimento.

Em Barcelona, na terça-feira, a Alcatel-Lucent anunciou que estava expandindo seu papel como intermediária na produção de aplicativos ao criar um laboratório de desenvolvimento baseado na computação em nuvem, que ela definiu como “campo de testes celeste”, a fim de acelerar o desenvolvimento de aplicativos mais amplos.

A empresa também criou um programa de intercâmbio com o objetivo de transformar os aplicativos existentes em novos programas, pela atração de investidores externos que ajudariam a bancar o processo de criação.

“Estamos nesse mercado para ajudar todos os participantes no ecossistema dos aplicativos a ganhar dinheiro”, disse Johnson Agogbua, que comanda o programa de aplicativos da Alcatel-Lucent.

As operadoras de telefonia móvel também estão se organizando setorialmente, e não se contentam em deixar o jogo dos aplicativos aos fabricantes de celulares. No ano passado, quatro operadoras que atendem a um total combinado de um bilhão de assinantes – China Mobile, Verizon Wireless, Vodafone e SoftBank Mobile, do Japão – formaram o Joint Innovation Lab, ou JIL, a fim de desenvolver aplicativos para os celulares usados em suas redes.
O grupo publicou uma especificação para um widget móvel, um aplicativo simples para celular, que exibiria informações atualizadas em tempo real sobre alguns dados limitados, tais como a temperatura local.

O formato de Widget »

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